'' Você trate de baixar sua cabeça e me obedecer, ou violento você, sua mulher e seus filhos'' pág. 222
''Eu jamais vou esquecer. Ele profanava meu corpo, mas era minha alma que transpassava com um golpe de punhal. A lamina jamais saiu.'' pág. 42
O harém de Kadafi é um relato feito por Annick Cojean, uma jornalista francesa sobre um terrível ditador da Líbia, que transformou a vida de todo um pais, destruindo suas mulheres e a honra de seus homens.
Neste relato, ela conta a história verídica de algumas mulheres e suas experiências na vida. Mas o maior e mais chocante relato é sobre a vida de Soraya, uma pobre garota que como muitas e possivelmente milhares de outras garotas líbias, teve sua vida destruída pelo atual comandante de seu pais, Muamar Kadafi.
Soraya começa contando um pouco de sua infância, como foi descriminada por seu povo por ter uma mãe estrangeira tunisiana e dona de um salão de beleza, nos conta sobre seu amoroso pai, que com muito amor adorava sua filha bem antes dela nascer. Nos conta sobre o relacionamento afetuoso que tinha com os irmãos e seus sonhos de talvez estudar medicina um dia. Certo dia com 15 anos de idade Soraya estava emocionada por ser escolhida com outras poucas colegas para recepcionar em sua escola com um buquê de flores, seu presidente Kadafi, o ''papai/Guia'' adorado por seu povo.
''Que oportunidade, não? Um momento como este vamos levar para vida toda! Eu me agarrei ao buquê, tremendo feito vara verde.'' pág. 31
''Apertou levemente meu ombro e pousou a mão sobre minha cabeça, acariciando-me os cabelos. E minha vida terminava aí. Pois esse gesto, como vim a saber mais tarde, era um sinal a suas guardas-costas que significava: ''Esta aqui, eu a quero!'' pág . 32
Nesse momento a vida dela terminou mesmo galera. Não demorou muito para que seus guardas a buscassem com uma desculpa em sua casa e a levassem a seu guia. Uma jovem menina que nem sonhava com um namorado, que nunca olhou homens com outros olhos, que foi ludibriada e quando percebeu do que se tratava já era tarde de mais.
''Mabruka chegou com uma cara de poucos amigos e me empurrou brutalmente para dentro do quarto, fechando a porta atrás de mim.Ele estava nu. Deitado em uma cama imensa com lençoís bege (...)- Vem aqui, minha puta! - disse ele, abrindo os braços - vem, não precisa ter medo!Medo? Eu estava muito além do medo. Sentia-me num abatedouro.'' pág. 42
Vou lembra-los de que ela tinha quinze anos, nunca havia sido beijada, nascera em um pais em que sexo fora do casamento é o maior dos crimes. Se sua família viesse a saber ela podia ser morta para assim limpa-lhes a honra. Nunca poderia encontrar um marido, uma vez que não era mais pura, e o destino das mulheres líbias era casar e ter filhos.
Os relatos da histórias são chocantes, Kadafi era um hipócrita, não respeitava as próprias tradições de seu povo. Bebia, fumava e abusava de homens e mulheres em sua maioria ainda crianças. Abusava até de mulheres casadas de seus amigos e inimigos, que nada podiam fazer ou seus maridos podiam morrer.
Soraya foi obrigada a viver com ele como uma de suas ''amazonas'', as falsas guardas-costas que não passavam de mulheres abusadas e mantidas contra a vontade para suas loucuras sexuais. Kadafi era um louco, ele não apenas abusava, mas fazia de de forma sádica e maluca, machucando profundamente ao ponto de quase matar suas ''mulheres''.
''Na quela noite ele me forçou a fumar (...)- Aspira! Agora solta a fumaça. Solta! - Eu tossia, e isso o fazia rir. - Vai, outro.No sexto dia, ele me recebeu com uísque.- Esta na hora de você começar a beber, minha puta!'' pág. 43
O que Soraya e as outras jovens sitadas no livro sofrem não é pouco, perdem as famílias, perdem tudo. Muitas preferem a morte, se no Brasil, nos dias atuais, ser ''abusada'' é algo tão terrível que somente as vitimas podem compreender tamanha dor, imaginem num pais tão atrasado, onde a mulher vitima perde tudo naquele momento. Família, casa, dignidade, para elas serem deixadas vivas pode ser um castigo pior.
Até hoje essa história é um tabu na Líbia, mesmo após a morte de Kadafi seu povo se recusa a falar do tema, fingem não saber de nada disso, as vitimas dele que ainda sobrevivem tem que mentir, se esconder ou ainda acabaram mortas por seus homens e familiares. Falar sobre isso pode significar o fim da pessoa.
''Se o estrupo de uma jovem causa a desonra de sua família como um todo, em especial a dos homens, a violação de milhares de mulheres pelo antigo dirigente do país só poderia suscitar a desonra de toda a nação. Ideia dolorosa demais.'' pág. 219
Além dos relatos que a jornalista vai nos contando sobre essas mulheres, ela nos fala sobre esse pais, nos dando sua opinião, nos falando de tudo que ela viu nessa visita, sofrimento de um povo.
Esse não é um livro fácil, não recomendo a leitura a galera muito jovem, acredito que se precisa de certa maturidade para se compreender e dar o sentido certo para esse livro. Ele é duro, triste, medonho de mais para os jovens que ainda acreditam nos contos de fadas. O mais triste de tudo é pensar que tudo isso esteve acontecendo a pouco tempo, que enquanto dormíamos seguros em nossas camas em casa, essas mulheres, esse povo sofria, e ainda sofre tanto. Mesmo com a morte do ditador, o caminho para um governo democrático ainda é longo e árduo, e as feridas que seu antigo líder deixou não é algo que vai sumir com o tempo, ainda que se passe cem anos, essa ''mancha'' repercutirá em suas histórias e lembranças, é um trauma para toda vida.
Título: O Harém de Kadafi
Subtítulo: A História Real de Uma das Jovens Presas do Ditador da Líbia
Autor: Annick Cojean
Editora: Verus Editora
Ano: 2012
ISBN: 978-85-7686-201-7 Páginas: 235
Comprar: AQUI $23,90 + Frete
Muamar Kadafi
O ex-ditador líbio Muamar Kadafi, deposto e linchado pelos seus opositores em outubro de 2011, poderia ser definido em uma única palavra: megalomaníaco. Atribuía enorme importância à sua imagem, se vestia de modo bastante peculiar e fazia questão de transformar suas aparições públicas em extravagantes encenações. Nascido em uma família muito pobre de beduínos, Kadafi trazia de volta suas raízes ao acampar em luxuosas tendas durante viagens a outros países ou ao receber personalidades na Líbia. Queria se mostrar autêntico, e não suportava concorrência ou comparação. Ele impedia que de seu país sobressaísse algum nome que não o seu - até os jogadores de futebol só podiam ser citados pelo número da camisa. Dentro do seu plano de intrigar o mundo estava se apresentar como único chefe de estado a se cercar de uma guarda inteiramente feminina. E ali ele escondia seu maior segredo: além de megalomaníaco, também era obcecado por sexo. Suas “amazonas”, como eram chamadas, destacavam-se pela beleza - a maioria não tinha qualquer formação militar nem sequer portava armas. Muitas eram, na verdade, amantes e objetos sexuais de Kadafi
Fonte: Portal 100 Fronteiras
Veja AQUI um pouco mais sobre a história desse monstro.
Annick Cojean
Nascida em 1957 na região da Bretanha, na França, Annick Cojean é escritora e correspondente internacional do jornal Le Monde. Atua como presidente do júri do Prêmio Albert Londres, que venceu em 1996, e é uma das jornalistas mais respeitadas da imprensa francesa. O harém de Kadafi é seu quinto livro.
Fonte: Verus Editora
Entrevista muito importante com a autora AQUI
Esse livro me foi indicado e emprestado por uma colega da faculdade chamada Valéria. Obrigada flor pela oportunidade de conhecer uma nova cultura, tomar conhecimento sobre o sofrimento terrível que outras mulheres passaram e passam até hoje. Pois assim pude apreciar ainda mais minhas bençãos na vida.
Esse tipo de livro é muito triste por tratar de uma realidade brutal e profundamente injusta, mas ao mesmo é super necessário e deveria ser mais divulgado a fim de estimular o debate sobre essa opressão absurda que não é um caso isolado. Para combater o mal é preciso conhecê-lo.
ResponderExcluirNossa!! Deve ser bem chocante esse livro..
ResponderExcluirÉ muito triste e revoltante o que essa mulheres sofreram nas mãos desse monstro...
O pior é que ainda existem muitas mulheres nessas mesmas condições..
Meu Deus, esse homem era o demônio em vida!!! quero muito ler! Devemos agradecer todos os dias pela vida que nós temos!! obrigada Nita!
ResponderExcluirGostaria de saber em qual parte o livro fala das noras dele li tudo porém não vi esta parte tem mesmo ?
ResponderExcluirParabéns pela resenha, clara e objetiva.
ResponderExcluir